Encontro de Comitês de Bacias Hidrográficas gera reflexão sobre gestão da água em SE

'Gestão da Água: Responsabilidade de Todos' foi tema do encontro que reuniu produtores da agricultura familiar, agroecologia e representantes da sociedade civil de todo o Brasil

Escrito por: Iracema Corso

Em Foz do Iguaçu, no Estado do Paraná, aconteceu o Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (XXIV ENCOB), de 22 a 26 de agosto. Com o tema ‘Gestão da Água: Responsabilidade de todos’, o encontro reuniu representantes de todo o Brasil.

O senhor Tiago Rodrigues, membro sócio fundador da Associação dos Produtores Orgânicos de Estância, membro do Conselho das Bacias Hidrográficas do Rio Piauí, Piauitinga e Pacatuba (CBHP), participou da atividade.

Trabalhador da agricultura familiar e defensor da agroecologia, o senhor Tiago trabalhou na roça em Estância e Riachão do Dantas dos 14 aos 26 anos e depois dos 40 aos 74 anos onde acumulou muitos saberes e vivência que foram compartilhados nos debates do ENCOB com organizações da sociedade civil de todo o Brasil.

Segundo Tiago Rodrigues, um momento importante do encontro foi o Planejamento Estratégico de Comitês de Bacias Hidrográficas. “Aprendemos como preparar o Planejamento Estratégico para não repetir erros passados. Não podemos avançar e depois regredir. Já passamos por isso. É preciso da formação de formadores para que o conhecimento nesta área de organização seja multiplicado e o movimento se fortaleça com a organização sólida da sociedade civil", afirmou Tiago.

 

GESTÃO HÍDRICA EM SERGIPE
Os principais problemas destacados por Tiago Rodrigues foram: saneamento básico, reflorestamento das nascentes e a discussão de estratégias para melhor aproveitamento da água para o plantio e água para consumo da população.

“Foi revigorante ver como as organizações no Ceará, Paraíba e no Rio de Janeiro trabalham em respeito à conservação. No Ceará e no Piauí, a quantidade de água que é armazenada com tanques e cisternas é incrível. A maioria das águas é acumulada. Não fazemos isso em Sergipe e precisamos fazer. Em Sergipe, a água é desperdiçada, os rios entram nas nossas cidades, mas precisa de cuidado, de gestão responsável da água que temos”, destacou o agricultor Tiago.

Ver o trabalho que é realizado em outros estados despertou questionamentos sobre a gestão hídrica em Sergipe. “Sobre a captação de água para Nossa Senhora da Glória, queremos saber para onde está sendo levado o resíduo da água tratada? Precisamos saber disso. Será que o resíduo está sendo jogado de novo dentro do rio? Penso que precisamos lutar porque meus netos, bisnetos vão perguntar depois: ‘e vovô, o que fez?’. Posso dizer que eu não me calei”, afirmou Tiago.

O tema da gestão hídrica em Sergipe voltou a ser discutido na mesa “Previsões Climáticas e hidrológicas nos Horizontes Sazonal e Sub sazonal visando orientar a gestão da alocação de água na bacia do Rio São Francisco”.

A importância da irrigação é fundamental para a produção agrícola, por isso o membro do CBHP, Tiago Rodrigues, questionou: “por que o único estado que não tira a água do São Francisco fomos nós? Só quem tira água aqui em Sergipe é a Deso. Muitos membros da sociedade civil em outros estados têm o apoio de ongs internacionais para ajudar a população. E o resíduo da água é outro ponto que precisamos resolver. Tem resíduo que é útil para o plantio. Queremos saber como este resíduo está sendo distribuído e armazenado. Tem alguma roça recebendo água?”, questionou o agricultor.

Tiago Rodrigues defende que organizações que cuidam do meio ambiente interfiram neste cenário para encontrar uma solução.

“Não queremos confronto com fazendeiros exploradores das nossas águas, mas as organizações Adema, ANA, Ibama, órgãos que cuidam do nosso meio ambiente precisam fazer este confronto até chegarmos a uma solução. Estamos sofrendo um problema climático e precisamos enfrentar isso aí pensando no futuro. Precisamos nos organizar para ter uma força política que nos represente e, é claro, temos que nos organizar”, afirmou Tiago.

AQUECIMENTO GLOBAL

Membro do CBHP, Tiago Rodrigues, afirmou que a questão climática e o aquecimento global foram temas presentes em todos os debates. “No ano passado não tivemos verão e o inverno choveu igual ou melhor que o verão aqui em Sergipe. Isso a gente vê no dia-a-dia. A temperatura de maio esfriou mais, ventou mais. O vento derruba as plantas, isso ataca a produção. Em compensação houve aumento da produção, pois temos costume de viver com seca e este ano não teve seca. A perda com chuva se recupera melhor do que perda com seca”.

Segundo Tiago, em Estância, em Riachão do Dantas e Tobias Barreto, a temperatura chegou a abaixo de 10º C. “Os grandes produtores sofrem mais na hora de colher o milho, o algodão, porque mesmo com a máquina para colher, há muita perda”, comentou.

Durante o XXIV ENCOB, aconteceu a apresentação do projeto realizado pelo DESO “Ação do ‘Saneamento Expresso’ no município de Laranjeiras/Sergipe como Estratégia de Educação Ambiental” que consistiu em aulas sobre a importância do saneamento ministradas dentro de um ônibus para estudantes de escolas públicas de Laranjeiras.

A proposta educativa na área de saneamento foi bem elogiada no encontro e o senhor Tiago Rodrigues destacou a necessidade de que o saneamento seja uma realidade no município de Laranjeiras. “A cidade de Laranjeiras não tem saneamento. A apresentação do trabalho foi importante e fica este alerta. O saneamento é importante para a saúde da população. As crianças precisam ver o saneamento acontecendo de verdade, nas ruas de sua cidade”, declarou.

REPRESENTAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL

De acordo com Tiago Rodrigues, a maioria dos participantes do XXIV ENCOB era formada por representantes da sociedade civil, enquanto Sergipe levou apenas 1 representante da sociedade civil para participar dos debates. “Precisamos melhorar a representação da sociedade civil nesta luta. Temos muitos problemas para resolver no campo”.

O senhor Tiago contou que em março deste ano ainda encontrou peixes mortos, envenenados com óleo, com a poluição do rio Piauí que entra na cidade de Estância, Riachão do Dantas, entre outras cidades.

“Precisamos descobrir de onde vem este óleo e resolver o problema. Não sabemos se a poluição é gerada pelas fábricas em Estância. É preciso barrar o uso exagerado e desregulado de agrotóxico pulverizado em Sergipe que mata os animais na mata, as aves, além dos males para a saúde humana. É um veneno que acaba com as nascentes dos rios. Diante de tanta irregularidade não é fácil fazer denúncias sozinho e mudar o que está errado”, acrescentou Rodrigues.

O agricultor Tiago destacou a importância da CUT/SE para ajudar na organização dos trabalhadores do campo e da agricultura familiar na luta por melhorias nas condições de produção, bem como na defesa do meio ambiente, que é fundamental para a produção. “A população precisa saber o que está acontecendo por isso eu aposto na união, no fortalecimento das organizações da sociedade civil e em um fórum em economia solidária”.

Na próxima semana, Tiago Rodrigues levará os debates que aconteceram no XXIV ENCOB para a reunião do Conselho das Bacias Hidrográficas do Rio Piauí, Piauitinga e Pacatuba que desta vez será no município de Riachão do Dantas.

#ÁguaNãoÉMercadoria

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